Inquérito a 471 artistas

Por Sara & André

Contemporânea


Conforme explicado no texto / email introdutório enviado aos artistas, o inquérito e o projeto são livremente inspirados na obra Inquérito a 60 artistas plásticos que Julião Sarmento apresentou na exposição Alternativa Zero em 1977. Livremente porque:

— tem mais uma pergunta;

— apenas a primeira pergunta é igual;

— a (nossa) imagem foi produzida por nós e a do Julião tinha sido recortada de uma revista (ainda assim, a nossa tenta reproduzir uma imagem encontrada numa revista);

— recorremos ao email ao invés dos correios;

— a nossa obra é apresentada digitalmente em vez de fisicamente;

— não revelamos na nossa obra o nome de todos os artistas que contactámos.

A terceira pergunta é inspirada na sobejamente conhecida frase do Il Gattopardo de Tomasi de Lampedusa; ver aqui

A quarta pergunta é literalmente apropriada de um espetáculo de João Fiadeiro; ver aqui e aqui:  

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Sobre os artistas convidados:

(Como em muitos outros projetos que desenvolvemos) baseámo-nos no que conhecemos e temos visto pessoalmente ao longo dos últimos anos, pelo que obviamente ter-nos-ão escapado diversos nomes, alguns até fulcrais. Também pode ter acontecido tentarmos contactar alguém e não termos tido sucesso apesar de acharmos que sim, por exemplo: termos um endereço de correio electrónico errado; a nossa mensagem ter ido parar ao spam; etc., e por esse facto não termos insistido ou corrigido esse contacto. De qualquer forma tentámos ser abrangentes nos convites que endereçámos, o que se poderá comprovar pela quantidade de respostas que recebemos.

Uma última referência consciente é um pequeno manifesto escrito pela Sturtevant a dada altura numa perspectiva negativa, "não trabalho para"; "não pretendo"; etc. etc., no qual nos inspirámos muito genericamente para a construção do nosso "poema" - porquê fizemos isto.

Para perguntar: "porque não fui contactado"; "posso responder ao inquérito"; para piropos ou críticas contactar: saramaisandre(at)gmail.com

Carolina Pimenta

O que representa, na sua opinião, esta imagem?

Uma trégua.

Em quê ou como é que o assunto representado afetou a sua vida e / ou prática artística?

Parou totalmente a minha vida. Durante 2020 ia estar focada em duas residências nos Estados Unidos uma em Los Angeles (Março – Maio) e uma em New York (Setembro – Novembro). 2021 seria trabalhar e expor as obras criadas durante esse período. Tenho de repensar e recompor por completo o resto do meu ano assim como o próximo.

O que deve mudar para que tudo fique na mesma?

A responsabilidade coletiva. Uma consciência comunitária, menos individual. Parece-me que a maior resposta que recebemos disto é que somos todos parte do mesmo compromisso, há muito mais à nossa volta do que aquilo que, normalmente, estamos dispostos a discernir.

E o que fazer daqui para trás?

A minha prática artística envolve muito o contacto e a observação do comportamento humano social. Neste período pouco me apeteceu fotografar e criar, mas sim olhar para trás, para o arquivo do meu trabalho, ao encontro do toque, que é das coisa mais importantes para nós, humanos. Um carinho, uma sedução, um conforto, um confronto, um que toque pode definir o rumo. Estou curiosa para observar como os comportamentos serão daqui em diante. As pessoas vão estar ansiosas para se juntar mas ao mesmo tempo tensas, vai ser uma experiência social única. Também tenho sido completamente seduzida pela natureza, o pouco que tenho fotografado tem sido muito mais virado para isso do que para pessoas. E ela encontra-se em pequenos e grandes momentos, mas mais clara que nunca. Este período tem-me permitido fazer o que já procurava há bastante tempo, abrandar o ritmo, que antes me parecia difícil por aparecerem sempre obrigações. Quero focar mais nessa fantasia de parar no tempo, controlar melhor a ansiedade, fazer o que já fazia antes mas com mais tempo e em menos quantidade.

Nome: Carolina Pimenta
Data: sexta-feira 1 de mai. de 20