Segunda Casa: Carolina Pimenta

Irrequieta, desconcertante, apaixonada curiosa. Carolina Pimenta é fotógrafa, tem alma de vagabunda, e das janelas do seu atelier vê-se o rio Tejo se se quisermos, o mundo inteiro. A Vogue foi espreitar a sua rotina imprevisível.

Retrato da artista enquanto jovem: estudou Design e Comunicação Visual no Leeds College of Art & Design, criou um blogue-diário-social chamado Lludus, estagiou com o Mario Testino, trabalhou na Another Magazine, mudou-se para Nova Iorque, esteve quarto anos numa creative boutique agency, despediu-se, deu a volta ao mundo, triou fotografias, tirou “milhares e milhares de fotografias”, fez colagens, mantou o [gone] Project juntamente com a Fotografa Anastasia Fugger, expos em Nova Iorque, Londres, Munique, no Porto e noutras cidades, voltou para Portugal, completou uma pós-graduação em Discurso da Fotografia Contemporânea nas Belas Artes, arranjou um projeto de vida que envolve fotografar mulheres em casas-de-banho, alugou um atelier, apaixonou-se, e decidiu que estava na altura de ter uma base, em Lisboa, daqui para on o futuro a levara. Carolina Pimenta tem 28 anos e é artista - repete várias vezes que não, ainda não se considera artistas, mas convenhamos, a definição assenta-lhe que nem uma luva.

O que é que te faz criar: Isso é uma pregunta muito difícil… Tudo, no fundo! Querer explorar territórios novos, música, o corpo da mulher - adoro trabalhar sobre o assinto da mulher, a imagem da mulher, é um escape. Acho que tudo me faz criar.

Primeira coisa que fizeste de manhã: Tomei café. Sou viciada em café. É um vício ainda maior que os cigarros.

Ludus: É o meu social diary. Começou na faculdade porque numa das cadeira tinha de fazer um blogue. E acho que uma das coisas mais importantes na vida, e que mais depressa se perde, é a idea de brincadeira e eu não quero deixar de brincar, então decidi chamar-lhe Lludus. Comecei a pesquisar expressões como “good times” e “play” e cheguei á palavra em latim, que é ludus, e que tem a ver com o jogo, brincadeira, interação… É uma foram de partilhar o meu quotidiano, de juntar coisas que gosto. Não é o meu trabalho per se, mas é o registo da vida que eu gosto sempre de ter e gosto de excitar as pessoas com esse lado mais brincalhão. As pessoas dão-me o tema, e eu dou-lhes de volta. É uma plataforma aberta para partilhar as experiências diárias.

Década preferida: Gosto de roubar coisas a décadas diferentes. Gosto dos anos 70 e gosto do anos em que estamos a viver agora, acho que esta década é super experimental, com referências a várias outras décadas. Está a ser uma ótimas fusão do presente e do passado.

Bandas a que regressas sempre: The Doors, Patti Smith e Arthur Russell.

O maior vício: Cigarros, acho… É a única coisa que tem perdurado. E chapéus, adoro chapéus. Tenho uma coleção gigante de chapéus. Não sei bem como é que isso começou, sempre gostei de chapéus, sempre roubei os chapéus do meu avô… Aliás, já sei como é que isso começou! Porque tenho o cabelo encaracolado e começou por ser uma boa forma de me proteger das chuva e humidade. Honestamente, começou assim. E depois cresceu o amor pelos chapéus, e quando comecei a viajar, comecei a reparar na importância que os chapéus têm em todas as culturas. Sempre que viajo, trago um chapéu desse sítio. Normalmente os dos homens são mais bonitos do que o das mulheres.

A maior aventura: Uma viagem ao Arizona. Quando me despedi em Nova Iorque, estava a passar uma fase muito chata, tinha um trabalho muito intenso, e acabei por ser eu a sair e mais umas raparias. Por acaso, uma amiga minha de Londres também estava a passar um mau bocado e veio ter comigo. Deixámos tudo para trás e fomos para o Arizona as quarto, e foi uma semana e meia longe de tudo, para esquecer tudo. As pessoas vinham-nos preguntar o que é que estávamos a tomar, porque parecia que estávamos drogadas! (risos) Mas era apenas self-exploration! Estávamos num sítio onde não conhecíamos ninguém, tínhamos passado um mau bocado e estávamos a libertar aquele peso todo, a não querer saber de nada e deixar tudo para trás das costas. Foi das melhores aventuras que já tive.

Cor favorita: Azul noite.

Peça de roupa indispensável: Estou sempre a mudar… Mas talvez jeans.

Referências de estilo: Adoro a Kate Moss. Ela e a Erin Watson para mim são as musas.

Objeto preferido: Chicote. Não, não é uma coisa sexual (risos). Se reparares, o chicote também é uma coisa que existe em todas as culturas, e á medida que vias recuando no tempo, ele está muito presente. É um objeto lindíssimo, que muda imenso de país para país - muda o comprimento, muda a grossura, muda o material - tem infinitas possibilidades e é uma coisa em que poucas pessoas pensam. E se observamos com atenção, é um objeto muito bonito.

Fotografia preferida: Que eu tirei? Isso é muito complicado! Não sei responder a isso. Tenho tanto amor a tantas diferentes, é por fases. Não sei… Tenho mesmo de responder a isso?!

Selfies: Tiro mais selfies paravas para mandar a amigas fo que propriamente selfies a sério. Tenho problemas com câmaras, fico super tensa.

Heróis e super-heróis: Não tenho um super-herói, tenho várias pessoa que admiro e que me inspiram, mas não há “a pessoa”. Como artistas adoro o Wolfgang Tillmas, o Rui Chafes, a Helena Almeida é uma verdadeira inspiração… São tantos… o Lawrence Weiner, a Nan Goldin, são milhares, há tanta coisa para ver, são tantas pessoas com tanto para oferecer…

Bathroom Sessions: Já tenho cerca de 900. Tiradas, não selecionadas. É uma coisa que quero deixar crescer um pouco mais. O meu objetivo é fazer uma exposição pequena, numa galeria pequena, e cobrir as paredes com impressões de tamanhos diferentes. Acho que só daqui a uns anos é que isso vai acontecer, porque agora tenho muitas fotos das mesmas mulheres, e quero que haja mais mulheres, mulheres diferentes. E depois as pessoas querem tanto fazer parte do projeto que depois acabam por posar, e a partir do momento em que posam estragam tudo. É suposto haver aquele lado invasivo e agressivo do flash, quando estás na casa de banho, aquela situação que é suposto ser íntima e que de repente está a ser exposta. E se estás a fazer uma pose perde-se todo o punk!