OVERLAYERD
The earth’s surface and the figments of the mind have a way of disintegrating into discrete regions of art.
— Robert Smithson
A exposição colectiva Overlayerd, nos antigos escritórios da Livraria Sá da Costa em Lisboa, apresenta trabalhos inéditos de Carolina Pimenta, Cécile Mestelan, João Varela, Luísa Salvador, Rui Dias Monteiro e Vasco Futscher.
Overlayerd, de layer (camada), não tem tradução para português. Sintetiza o processo de cobertura de algo através do uso de uma camada de outro material, diferente do primeiro coberto.
Em 1983, Lucy Lippard escreve uma obra intitulada Overlay, um livro sobre arte contemporânea e a sua relação directa com símbolos e lugares da pré-história, e como essas imagens pré-históricas foram readaptadas por artistas contemporâneos nos seus trabalhos artísticos. Como se existissem uma série de sobrevivências imagéticas que podiam ser lidas em paralelo, apesar do tempo que as distancia. Esta proposta warburgiana de Lippard esteve presente no processo de trabalho que deu origem à exposição Overlayerd. Existiam diversas camadas a serem consideradas. Como pensar o trabalho de seis artistas com práticas diferentes? Como abordar o espaço desta exposição e toda a sua história prévia? Como conciliar estas premissas?
Os trabalhos apresentados encontram-se num limiar de sobreposições e preexistências. Entre todos, evidencia-se uma certa apetência e persistência em trabalhar sobre a matéria, sobre as camadas, sedimentadas e temporais, e a remasterização das mesmas. Percebe-se que há uma busca por compreender as características de um material, de procurar os seus limites, de associá-lo e confrontá-lo com novos lugares. Houve especial atenção em manter a expressão individual de cada artista, mas pensando a exposição colectiva como um lugar de encontro e de afinidades.
Os trabalhos de Cécile Mestelan, Luísa Salvador e Vasco Futscher são realizados recorrendo a um material que celebra e atesta o processo de sedimentação: a cerâmica. Os três procuram na sua plasticidade possibilidades de trabalho diferentes. Cécile Mestelan apresenta um conjunto de obras depuradas, de linhas geométricas fortes e com uma simbologia recorrente no seu trabalho, tendo por objectivo evidenciar uma sobreposição formal aqui originadora de novos símbolos visuais; Luísa Salvador procura um híbrido entre o desenho e a escultura, evocando uma antiga série de desenhos seus para repensá-la agora através de um novo material, usando a cor como origem das formas; Vasco Futscher por sua vez recorre à mistura de dois tipos de argila no seu estado puro, para criar composições escultóricas que nos remetem para construções antigas e clássicas, já presentes na sua obra. Já Carolina Pimenta, João Varela e Rui Dias Monteiro utilizam a técnica fotográfica para procurar limites paisagísticos diferentes. Carolina Pimenta recupera o processo de colagem, utilizando registos fotográficos seus para criar trabalhos que projectam novas paisagens, de enormes amplitudes e com cromatismo utópicos. João Varela apresenta-nos uma série fotográfica, em que retrata uma estrutura que evoca uma outra, icónica, mas presente numa geografia distinta. Uma sobrevivência arquetípica que é revelada através de um conjunto de vistas sobre o construído. Rui Dias Monteiro encontra no quotidiano, nas suas deambulações e caminhadas diárias, elementos descartados que re-situa e que nos revelam novas possibilidades de olhar e compreender a paisagem urbana.
Todos estes trabalhos articulam-se com o espaço expositivo, procurando nas diferentes salas, nichos e recantos, lugares onde podem apresentar-se e evidenciar-se de formas particulares. Ao espectador, é feito o convite para os encontrar e pensá-los através da sua própria deambulação pelo espaço.
Luísa Salvador Dezembro 2016
