Panorama de la plástica portuguesa actual: juntos pero no revueltos

Os Conviventes | Galeria Nuno Centeno

Curadoria

Pedro de Llano

Artistas

Merlin Carpenter, Mauro Cerqueira, Adriano Costa, Ángela de la Cruz, Stephan Dillemuth, Dalila Gonçalves, Alisa Heil, David Lamelas, Gabriel Lima, Fernando José Pereira, Silvestre Pestana, Carolina Pimenta, Josephine Pryde, Blake Rayne, Gretta Sarfaty, André Sousa

  

Os conviventes é uma exposição que tem a sua origem em associações, ideias e memórias. A primeira obra que me veio à cabeça foi um retrato, visto há seis ou sete anos na galeria Nuno Centeno que parecia olhar o espetador nos olhos, propiciando uma conexão emocional com ela. A partir desta experiência pensei numa forma de abordar o projeto que poderia passar por procurar mais retratos, autorretratos e rostos realizados pelos artistas da galeria que tecessem uma malha de olhares, como uma teia de aranha, mediante os quais o espetador ficaria preso.

A planta da sala principal da galeria situada na Cooperativa dos Pedreiros – um quadrado -,ajudaria a criar esse efeito, entre cúmplice e controlador, através da geometria. Esta ideia rapidamente perdeu o seu caráter literal e tornou-se mais abstrata: ao rememorar e juntar outras obras à lista, dei-me conta que não se tratava apenas de retratos e olhares, como também de corpos e presenças que, nalguns casos, atuavam como alter-egos dos artistas ou, eventualmente, de pessoas reais e fictícias. Até que ponto é que uma obra de arte não é, em determinadas circunstâncias, um substituto (surrogate) do artista?

 O passo seguinte no processo fez-me ver que esta coleção de obras resultaria numa espécie de reunião de presenças e ausências, numa congregação de corpos e fantasmas. Como se os artistas da galeria fossem uma espécie de família impossível – opressiva, tal como n’O Anjo Exterminador (1962) de Luis Buñuel -, à que se somam alguns convidado seletos. Aquilo a que nestes tempos de pandemia chamamos conviventes.

Assim, a exposição aspira à criação de um diálogo a partir da interação entre as obras selecionadas, o espaço da galeria e o espetador, que refira uma série de questões sobre as quais temos vindo a pensar nos últimos meses e que de uma forma ou outra, estão sempre na cabeça dos artistas; especialmente daqueles que gostam de trabalhar isolados – confinados-, nos seus estúdios: a proximidade e a distância, o físico e o intelectual, o real e o imaginado, o tato e o olhar, a comunicação e o isolamento, o visível e o invisível, o figurativo e o abstrato, o finito e o infinito, o presente e o passado, o efémero e o eterno…