- EXHIBITION VIEWS
- Ombreira da Porta
Depois da Imagem
O Encanto só anda no horário da maré
I Could Eat You
One Shot
Escola de Libertinagem
This Side of Nowhere
Open Studio I
Dip me in the river, drop me in the water!
Os conviventes
Um livro é uma sequência
Spill The Beans
If I tell you mine, will you tell me yours?
Potlatch
Almost Famous
Suck & Blow
Hyperex
Entre forças: humana natureza - ABOUT
- BOOKS
- NEWS
- COMISSIONS
- #LLUDUS
Os conviventes
June 25 — September 4, 2021
At Galeria Nuno Centeno
Porto, Portugal
Curated by Pedro de Llano
Merlin Carpenter, Mauro Cerqueira, Adriano Costa, Ángela de la Cruz, Stephan Dillemuth, Dalila Gonçalves, Alisa Heil, David Lamelas, Gabriel Lima, Fernando José Pereira, Silvestre Pestana, Carolina Pimenta, Josephine Pryde, Blake Rayne, Gretta Sarfaty, André Sousa
Os conviventes é uma exposição que tem a sua origem em associações, ideias e memórias. A primeira obra que me veio à cabeça foi um retrato, visto há seis ou sete anos na galeria Nuno Centeno que parecia olhar o espetador nos olhos, propiciando uma conexão emocional com ela. A partir desta experiência pensei numa forma de abordar o projeto que poderia passar por procurar mais retratos, autorretratos e rostos realizados pelos artistas da galeria que tecessem uma malha de olhares, como uma teia de aranha, mediante os quais o espetador ficaria preso.
A planta da sala principal da galeria situada na Cooperativa dos Pedreiros – um quadrado -,ajudaria a criar esse efeito, entre cúmplice e controlador, através da geometria. Esta ideia rapidamente perdeu o seu caráter literal e tornou-se mais abstrata: ao rememorar e juntar outras obras à lista, dei-me conta que não se tratava apenas de retratos e olhares, como também de corpos e presenças que, nalguns casos, atuavam como alter-egos dos artistas ou, eventualmente, de pessoas reais e fictícias. Até que ponto é que uma obra de arte não é, em determinadas circunstâncias, um substituto (surrogate) do artista?
O passo seguinte no processo fez-me ver que esta coleção de obras resultaria numa espécie de reunião de presenças e ausências, numa congregação de corpos e fantasmas. Como se os artistas da galeria fossem uma espécie de família impossível – opressiva, tal como n’O Anjo Exterminador (1962) de Luis Buñuel -, à que se somam alguns convidado seletos. Aquilo a que nestes tempos de pandemia chamamos conviventes.
Assim, a exposição aspira à criação de um diálogo a partir da interação entre as obras selecionadas, o espaço da galeria e o espetador, que refira uma série de questões sobre as quais temos vindo a pensar nos últimos meses e que de uma forma ou outra, estão sempre na cabeça dos artistas; especialmente daqueles que gostam de trabalhar isolados – confinados-, nos seus estúdios: a proximidade e a distância, o físico e o intelectual, o real e o imaginado, o tato e o olhar, a comunicação e o isolamento, o visível e o invisível, o figurativo e o abstrato, o finito e o infinito, o presente e o passado, o efémero e o eterno…
Situação 21
HISTÓRIAS COM AMANHÃ - UMA CARTOGRAFIA SOLIDÁRIA DA RELEVÂNCIA DAS GALERIAS DO PORTO
Situação é o primeiro momento de uma iniciativa que se deseja continuada, fortalecida e eventualmente mais abrangente no futuro.
Seis galerias da cidade decidiram unir esforços nesta conjuntura social e economicamente desafiante no sentido de alicerçar a convicção na inevitabilidade
da atividade cultural, quaisquer que sejam as circunstâncias. Este é um evento que sublinha a importância das galerias no seu trabalho desenvolvido, bem como a pertinência da sua ação num sentido prospetivo, ao demonstrar abertura e curiosidade perante o contexto.
O apoio material e institucional concedido à iniciativa pela Câmara Municipal do Porto inscreve-se com justeza na perceção generalizada da qualidade do trabalho destes agentes culturais, bem como na sua ação determinante na reconfiguração histórica do panorama nas últimas três décadas (algo que a exposição promovida recentemente pela Galeria Municipal, Que horas são que horas: uma galeria de histórias veio meritoriamente por em evidência).
Para além do vínculo primordial com os artistas que representam e expõem, as galerias de arte são produtores culturais que envolvem uma miríade de profissionais na sua atividade: curadores, tradutores, montadores, transportadores, técnicos de som e imagem, fotógrafos, moldureiros, designers, entre outros. São, assim, motores de uma economia local e nacional que está por detrás da simples exibição de obras de arte.
Acresce que funcionam como elemento central na pedagogia continuada da arte contemporânea. Paralelamente à atividade inicial da Fundação de Serralves, nos anos noventa do século passado, foram as galerias da cidade que permitiram que o público tivesse contacto com uma série de exposições de artistas internacionais. Este fator viria a ser determinante na criação de uma massa crítica que consolidou a ideia de um cosmopolitismo que a cidade hoje em dia é capaz de demonstrar. Muitas das coleções públicas e privadas devem uma parte significativa da sua essência à oferta que as galerias da cidade souberam potenciar num mercado apesar de tudo incipiente e estranhamente volátil.
Este continua a ser um desafio primordial: a recuperação de um tecido de colecionadores que já foi mais forte no passado, mas que se quer rejuvenescido e mais diversificado. Se, por um lado é necessário articular estratégias para resistir ao deslocamento de importância, neste setor, do Norte para o Sul, também é urgente pensar incisivamente numa mudança de paradigma a que hoje em dia se assiste, nomeadamente a atração que as leiloeiras exercem sobre os colecionadores num contexto de crescente internacionalização e digitalização do mercado. As galerias são motores de inovação, produção e criatividade. Se antigamente subsistia uma noção de que o trabalho do galerista se limitava a ir buscar obras já realizadas aos ateliers dos artistas, importa referir que a maior parte da nova produção dos artistas contemporâneos acontece precisamente porque as galerias o permitem. Este ponto é muito importante, pois hoje em dia parece que só as encomendas institucionais levam à produção de obras novas de algum fôlego, quando muitas exposições no enquadramento galerístico apontam exatamente nesse sentido.
As galerias são, também, um dos mais decisivos agentes de internacionalização dos artistas nacionais: a presença continuada em feiras no estrangeiro foi, e continuará a ser, esperando que as condições económicas assim o permitam, um elemento crucial nessa visibilidade acrescida. Como comissário convidado pelo núcleo de seis galeristas desta primeira edição da Situação, foi-me pedido para estender o convite a seis curadores para se responsabilizarem pelos projetos em cada uma das galerias. O convite pressupunha um trabalho que não só integrasse os artistas de cada uma das galerias, mas que também incorporasse outros autores (de preferência da cidade).
Não me querendo substituir a juízos futuros, não poderia estar mais satisfeito com o modo como as respostas foram articuladas para cada uma das galerias: a aposta num diálogo profícuo com autores geracionalmente distantes, irradia a riqueza de que se nutre a história, donde se alimentam estas histórias com amanhã, com as galerias da nossa cidade como protagonistas.
Situação acontece com um atraso substantivo relativamente ao previsto devido à condição pandémica que atualmente vivemos. Mas acontece! Que este seja um sinal de que todo um setor se reerguerá das condições difíceis a que se está ver sujeito e que continue, com maior consciência ainda e se possível, da importância que detém no bem-estar e empoderamento cívico na sociedade contemporânea. A cultura não é acessória e descartável. É, antes, um garante de futuro, de compromisso com visões do mundo que o tornam mais complexo, denso e habitável. Precisamos dos artistas para nos ajudarem a conviver com essa complexidade contemporânea. E, por extensão, precisamos de uma das suas casas, as galerias, para lhes dar visibilidade.
Miguel von Hafe Pérez — Comissário Situação